sábado, 6 de novembro de 2010

Breve Ensaio sobre a Solidão


Sexta-feira, dia 05 de novembro de 2010. Passei o dia calado por conta de uma faringite, apesar de medicado. Evitar forçar a voz. Logo começou a vir a febre, dor no corpo e indisposição para quase qualquer coisa. Após um restaurador cochilo, entretanto, animei-me a pegar um livro para ler. Chama-se ‘Ensaios Sobre o Amor e a Solidão’, do psicoterapeuta Flávio Gikovate. Não é um livro técnico de Psicologia; ao contrário, tem uma escrita bastante informal, mas que nos faz refletir sobre muita coisa. Li justamente o ensaio sobre a solidão. Algo do que vou falar aqui mistura minhas ideias às do próprio Gikovate, que achei sem dúvida valiosas!
A começar pela própria palavra solidão, que tanta gente vê com maus olhos. Pensa-se em derrota, abandono, desamparo... será que é realmente assim? Tomada em outro sentido, ela não quer dizer exatamente ficar sozinho, mas buscar sua própria individualidade, sua própria individuação. Enquanto Tom Jobim dizia ser “impossível ser feliz sozinho”, aqui eu encontro ressonância para a ideia de que ser feliz sozinho é fundamental, e não impossível. Há pessoas que relutam em olhar para dentro, até porque encontram em si um bocado de coisas que não estão preparadas ainda para encarar de frente. Tudo bem, o processo de encarar-se a si mesmo (se me permitem o pleonasmo) é demorado, doloroso. Mas a partir do momento em que reconheço o que é meu, consigo discernir o que é do outro. Não tem nada a ver com a busca da perfeição, mas com a aceitação dos próprios defeitos para poder lidar com eles. Compreender nossos erros, pontos cegos, onde falhamos, pois isso nos torna mais humanos e permite que tenhamos mais compaixão com o próximo e seus defeitos. As relações mudam: aceitamos opiniões contrárias às nossas, aprendemos a ser mais tolerantes, sem necessariamente dever esperar que os outros também se tornem. Entendemos que num relacionamento amoroso, ninguém muda ninguém. As pessoas podem mudar, certamente. Já vi casos de pessoas que mudaram da água para o vinho em um relacionamento, mas voltaram do vinho para a água quando este chegou ao fim. Será que isso é uma mudança legítima, de dentro? Relacionamentos devem ser construídos valorizando os traços em comum, e compreendendo as diferenças e necessidades da(o) parceira(o); aceitando que assim é a vida, não somos 100% iguais e não cabe a nós julgar o outro pelos seus defeitos. Isso também nos dá liberdade para ser quem somos, livres de julgamento vindo de fora, independente de quem seja. Como há pouco argumentou uma querida amiga, a prática é bastante difícil. Mas creio que aos poucos isso pode ser feito, nosso espaço ser conquistado, mesmo que a passos de tartaruga. Deixamos de depender dos outros para nos tornar independentes. E a independência, na minha opinião, é o que mais possibilita o Amor, em qualquer de suas formas.