quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Das batalhas não travadas pelos cavaleiros medievais

Estava pensando um pouco sobre um trecho que li em algum livro, sobre os cavaleiros medievais. Não lembro a fonte com precisão, mas a ideia ficou bem marcada na minha cabeça: eles sempre carregavam em seus corações o amor por uma mulher, preferencialmente alguém notável em sua sociedade, e a quem dedicavam suas vitórias; era sua musa inspiradora. Seria maravilhoso, se não fosse por um detalhe: normalmente, eles mal se conheciam! Amor ideal, platônico... e não ia além. Será que a própria donzela sabia que seu nome era motivo de inspiração em batalhas?
Bem, já vi casos que acho ainda mais interessantes: situações em que as pessoas se conhecem, se envolvem, mas ainda assim não saem do mundo das ideias. Não conhecem verdadeiramente e a fundo aquela pessoa com quem se relacionam, e se prendem aos próprios conceitos de quem seu/sua companheiro/a é. Talvez seja esse um dos motivos que mais empobrecem os relacionamentos. Porque é muito gostosa a parte da sedução, no início da coisa toda. Percebemos como aquela pessoa é por fora: suas belezas e pontos fortes, o jeito de se vestir, de andar, gesticular... bem, a imagem costuma ser a primeira coisa que captamos dos outros, não é? Depois vêm os primeiros contatos, as primeiras conversas, sobre os mais variados gostos, aquela coisinha deliciosa de ir descobrindo como ele ou ela pensa, seus gostos principais, o que curte fazer num sábado à noite, seus filmes favoritos, quais mp3s rolam no seu Windows Media Player, que livros repousam em sua estante, que pensamentos perambulam na sua cabeça? A lista é imensa! Mas até aqui, a coisa flui, e normalmente até que flui muito bem, quando os dois se “encaixam”.
A terceira parte é que é o bicho! É aquilo que normalmente só vem com a convivência. É saber lidar com as brigas, com as caras emburradas e feias (as famosas trombas!), choros motivados ou não, ou a implicância com alguma situação ou mesmo pessoa. Saber como encarar as diferenças e aceitar os pontos divergentes, e ainda assim demonstrar carinho incondicional. Conseguir superar os defeitos, aquilo que mais perturba e nos tira do sério, porque tudo isso “vem no pacote”, não podemos deixar de fora. Mas isso tem que ser dos dois lados, pois não podemos nos perder de quem somos em uma relação. Aliás, atualmente penso que prejudicamos as relações por nos perdermos de nós mesmos, mais que outra coisa. Só podemos realmente dar algo de valor a alguém se tivermos isso dentro de nós, se amarmos a nós mesmos antes de tudo!
Será por isso que atualmente muitas pessoas estão cada vez mais fugindo dos relacionamentos? Será por isso que elas se afastam e evitam os outros, ou embarcam na onda de “praticar o desapego”, só para não precisarem passar da superfície e encarar de frente o que se esconde além dela? É, relacionamento é complicado mesmo! Mas desistir não é a melhor solução, certamente. O melhor é cuidar de si mesmo, para ter o que dar quando encontrar outra pessoa disposta a tal, com valores parecidos. E quanto a nosso cavaleiro medieval, do começo do texto? Ainda creio que teria sido muito melhor comemorar suas vitórias convidando aquela linda donzela para um jantar a dois, um vinho suave, a luz da lua, as doces melodias do alaúde de um menestrel...